O Everest Montanha tem todo o folclore étnico de nepalês, incluindo o quadro com os Himalaias em fundo. E tem molhos com natas, como o deste lamb tikka masala, um prato notável.
O lamb tikka masala é irmão do chicken tikka masala, campeão de vendas em todo o mundo. Apesar de maltratado pelo Ocidente, a receita na sua base é uma obra-prima e um dos casos, relativamente raros, em que o tomate das Américas se imiscui em mixes de especiarias indo-nepaleses.
Lembrar, já agora, que a malagueta também veio das Américas, nos porões de Espanhóis e Tugas, e que antes o que picava para lá da Costa do Malabar eram as pimentas, essas sim autóctones e muitas.
Outro alerta sobre aquela coisa de ver caris e masalas na carta e concluir que “isto é mas é indiano armado em nepalês, porque o Nepal é mais zen e as pessoas parecem menos pobres”.
Não é por aí. A cozinha nepalesa coincide em muita coisa com a indiana, tal como aliás acontece, por exemplo, com a cozinha do Paquistão e do Bangladesh.
No caso do tikka masala, o seu criador foi o dono do mítico restaurante Moti Mahal, situado na Velha Deli, na Índia, nos idos de 1950. O prato chamava-se então frango amanteigado. Sucede que os colonos britânicos não terão gostado das reminiscências francesas do nome e fizeram vingar outra designação.
A receita inicial do tikka masala prescreve que a carne deva ser marinada numa pasta de gengibre, alho, iogurte e limão; depois cozinhada em espeto com os fumos do tandoori (no Everest é assim e faz toda a diferença); e por fim mergulhada no molho.
A cor do molho advém do tomate, que é triturado. No final, junta-se a mistura de especiarias garam masala e as natas.

O borrego tikka masala do Everest Montanha parece sempre que é preparado no momento, do princípio ao fim (não é). O restaurante tem das cozinhas mais eficientes que conheço. Os pratos chegam no preciso momento em que acabamos de despachar os paparis com molho de malagueta verde e o primeiro lassi e, só em dias de muito lodo, acontece um atraso nas entregas.
Há muito poucos restaurantes onde tenha ido mais de 10 vezes sem que tivesse um desaire. O Everest Montanha da lisboeta Avenida do Brasil (há outros Everest Montanha na cidade, não tão bons) está nesse grupo muito reduzido. Talvez por isso permaneça sempre cheio, há mais de 10 anos.
Das chamuças ao nan, da sopa de lentilhas ao riquíssimo prawn Everest (o meu prato favorito da casa, com queijo fresco, ervilhas, caju), é tudo bom. Sempre. Incluindo o borrego amanteigado.
Meu Deus, agora que li que Butter Chicken é a mesma coisa que Chicken Tikka Masala, desbloquearam-se muitas coisas na minha cabeça. Hei-de experimentar fazer com borrego.