As ostras são bichos extraordinários e Portugal tem a sorte de ter das melhores.
A Gillardeau, marca de prestígio francesa, compra boa parte da produção da Ria Formosa, e depois exporta-a para oligarcas russos e chineses com selo Made in France. O costume.
A discussão sobre quais são as melhores de Portugal pode mostrar nuances interessantes, mas a verdade é que já as comi excelentes dos três grandes berços do país: Algarve, Setúbal e Aveiro.
Nesta altura, as ostras mais recomendáveis são as giga triploide que, por não se reproduzirem, nunca se apresentam leitosas e com o sabor acre habitual noutras variedades, entre Maio e Setembro.
Há ostras mais magras e isso não significa que sejam menos saborosas. Mas para comer ao natural, gosto delas de calibre pequeno-médio e gordinhas. Com ostras grandes também se fazem bons petiscos, como bem sabe Noélia (de novo aos comandos do seu restaurante, em Cabanas de Tavira), autora de um famoso arroz de ostras.
As ostras não precisam de nada para serem comidas. Há quem lhes escorra o líquido ou parte dele, por ser demasiado forte, e as banhe em água do mar — ou, pior, com sal —, mas eu acho um desperdício. Também podem ser servidas com limão, lima, tabasco e muitas outras coisas que não importam para aqui.
Se mesmo assim não gostar do sabor, aprecie as propriedades. Ostras são bombas de zinco. As ostras e o zinco estão associadas à fertilidade masculina e à produção de esperma desde Casanova. Já este ano, um estudo norte-americano concluiu que, afinal, pode ser só placebo e literatura, mas placebo e literatura dão energia a muita gente.
Enfim, vem isto a pretexto das melhores ostras que comi este ano. Não, não foram num Michelin. Não não foram numa marisqueira. Foram numa rulote. Numa esplanada de uma rulote.
A dica foi-me passada por uma Setubalense, que há muito goza do serviço. Junto ao Sado, há uns meses que a Ostras sobre Rodas vende três ostras mais um copo de vinho por seis euros — preço campeão do mundo.
Ora, no mês passado, o projecto deslocou-se também para Belém. Fica mesmo em cima do Padrão dos Descobrimentos e da água. Sentamo-nos ali, aproveitamos o rio, a comida e as explicações dos guias aos turistas espanhóis, atónitos com a revelação de que, afinal, não descobriram o mundo sozinhos.
As ostras são mais caras do que as de Setúbal, 2€ a unidade, mas ainda assim valem bem a despesa.
Há também umas tábuas de queijos e presunto, que podem ajudar a compor o ramalhete de fim de tarde.
À frente do negócio está João Lopes, 24 aninhos, sobrinho de um produtor do Sado.
Abre de quarta-feira a domingo, a partir das 12.00 até às 21.00.
Encham-se.
Grande ideia e grande dica!!!!
Altamente recomendável.