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Melhor Prato da Semana: Pastel de Sapateira do Attla

A ideia de pôr sapateira dentro de massa pode parecer estúpida, mas é a melhor coisa que me passou pela boca nos últimos tempos. Um grande prato de um restaurante especial.

Já foi uma das grandes revelações de 2019, mas está ainda melhor. O pequeno restaurante de Alcântara, gerido pelo casal André Fernandes (cozinha) e Rita Chantre (sala), regressou do confinamento em grande.

Há dias tive lá um jantar memorável, ao som de jazz orquestral e festivo, com uma boa novidade não comestível: está melhor a carta de vinhos, agora com a ajuda dos Goliardos, vinhos de pequenos produtores com lógica de sustentabilidade, avessos a extracções malucas e madeiras sobreperfumadas.

Quanto à comida. André pratica cozinha livre, de produto, mais marinho que outra coisa, e domina técnicas de fine dining, como curas, fumados e afins.

Há uns anos levaria com a etiqueta da fusão, por causa do apelo por molhos ponzu e ervas asiáticas, da lima kafir à erva príncipe — mas a etiqueta é redutora.

O que o Attla faz é parvoíce boa. Coisas que parecem tontas, mas que resultam extremamente gostosas. A gente lê a ardósia e pensa que tem pela frente um desses desfiles de moda onde as calças vêm com a braguilha no rabo. Coisas giras que não são para usar. Errado.

Há muito disso por aí. Muito chef com egos criativos e o paladar avariado. Muito chef que inventa, mas não prova, não testa, não dá a comer o que inventa.

Não é o caso de André. André mostra-nos que, afinal, aquela braguilha no rabo funciona.

Alho francês com mostarda? Sim. Notável.

Choco com caril de tinta de choco? Pois. Magnífico.

Peixe galo com alperce picante? Então não. Fabuloso.

Ravioli de batata com cavala fumada? Isso. Nhamnham.

Pastel de sapateira? Oh, caraças. Ui. Foda-se. Venham mais três.

O nome oficial do prato é massa de azeite glaceada com ponzu, sapateira e ervas. Mas por aí não chegamos lá. O que importa é que a massa é saborosíssima, untuosa mas delicada. E lá dentro temos a carne da sapateira, fresquíssima, húmida, como se André a tivesse acabado de esfiapar com um alfinete.

Com o Pelluda dos Goliardos, um branco do Dão fino e a bom preço (16€), podia ficar nisto a noite toda. Talvez só parasse para a sobremesa do dia, um pudim de ovos concentradíssimo, refrescado com granizado, mais parvoíce saborosa.

No fim, éramos cinco, pagámos 35€ por pessoa.

Não há outro sítio assim, hoje em dia, em Lisboa. O Attla está em grande forma.

Quanto ao pastel de sapateira, caminha para prato do ano. Da década. De sempre.

3 comments on “Melhor Prato da Semana: Pastel de Sapateira do Attla

  1. João Gouveia

    wow… promete!

  2. Artur Hermenegildo

    Olha, tenho de ir

  3. Filipe Freitas

    Maravilha, proxima paragem…

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