A primeira pasta como deve ser que comi na vida foi no Mezzaluna, na Rua da Artilharia, em Lisboa, onde é hoje o Forno d’Oro. Na altura, era um jovem jornalista do Público e fui a convite de uma fonte da área da Justiça — que teve a amabilidade de me pagar a conta, altinha para as minhas posses.
Era um restaurante onde ia gente sofisticada e personalidades, um fine dining italiano desajustado a um estagiário de bloco de notas e calças de ganga. Deve ter sido pouco depois da viragem do milénio e, se bem me lembro, estava na sala aquele primeiro-ministro que mudou de carreira a meio do mandato, Durão Barroso.
Para além dos ensinamentos da minha fonte, no entanto, aquilo que mais retive foi a pasta com gambas e um molho natoso, com vodka.
O restaurante fechou de forma algo abrupta, em 2014, e o chef fundador, o experiente Michael Guerrieri, haveria de voltar para Manhattan, onde parece apostado em fazer sandes de “influência portuguesa” (o pão é feito por um emigrante português).
Antes de partir, todavia, deixou-nos aquele que é, ainda hoje, um dos mais bonitos livros de comida editados em Portugal. Chama-se Mezzaluna em Lisboa e a edição, particularmente cuidada, é do Público.

Esta receita, testada ontem, é só inspirada nesta memória, mas soube muito bem. Usei fusili, porque era o que tinha, mas vai porventura até melhor com linguine e fetucine.
Usei uns camarões “bio” de supermercado, mas de boa qualidade. Prefiro pagar um pouco mais, comer um pouco menos e não ter um lixo ultra-congelado.
Serviu 4 pessoas.
Ingredientes
300 gr fusili seco
3 anchovas de conserva
4 dentes de alho
3 colheres de azeite
1 malagueta fresca vermelha (tipo italiana)
200 gr espargos verdes
180 gr de camarão sem cabeça
150 gramas de tomate cereja cortado ao meio
2 folhas grandes de manjericão fresco
125 gr de natas gordas (30 a 35% matéria gorda)
3 colheres de sopa de sal marinho
Pimenta preta q.b.
1/2 Lima
Preparação
- Coza os fusili até estarem al dente, em cerca de 3 litros de água viva, com 3 colheres de sopa bem cheias de sal marinho. Atenção que al dente não é mal cozido. É ainda rijinho por dentro, por vezes até com um ligeiro sabor a farinha seca ao centro.
- Pique muito fininho o alho, as anchovas, o manjericão e a malagueta em aros finos. Descarte a base fibrosa dos espargos e corte o restante longitudinalmente e depois em troços de 2 ou 3 cm.
- Ponha uma frigideira com 3 colheres de sopa de azeite a aquecer e deite este preparado lá para dentro. Frija durante uns 5 minutos.
- Junte o camarão, já sem cabeça. Deixe estar uns 3 ou 4 minutos, por forma a que fique firme, só ligeiramente cozinhado. Esprema a lima (ou limão, se preferir).
- Junte as natas e deixe ferver e emulsionar durante uns 2 minutos.
- Ponha os fusili num recipiente, de preferência que não seja uma saladeira funda, por forma a evitar que fique tudo escondido na base. Verta o preparado da frigideira por cima. Polvilhe de pimenta preta. Coma com um copo de vinho branco dos bons.

que bela ideia reavivar a memória. belo local o mezzaluna. isto dava umma série – cozinha da quarentena. abraço
E a vodka?